03 janeiro, 2011

(UM) MILAGRE DE NATAL...

Nos despedimos naquele ano de 1985.
24 de Dezembro.
Velório pela manhã, enterro à tarde.
À noite, a ceia.
Diferente, mas nem tanto ...
Todos reunidos, comida farta, troca de presentes.
E, desde então, foi assim ...
Ano após ano, como se não houvesse necessidade de chorar, de sentir, de deixar partir ...
De tentar ´perdoar´ aquele que não conseguiu mantê-la viva...
Não entendiam meu humor estranho, meu quase desânimo e vontade de isolamento nesta data ...
Afinal, quando já estava lá, na festa, tudo passava...
Passava?
É ...
Mas no dia 24 de Dezembro de 2010 me permiti fazer apenas o que queria!

Ouvi as músicas do Ivan que ela me apresentou... 
Vi nossas velhas fotografias...
Reli cartões, lembrei de sua caligrafia e de seus desenhos – tão dela, tão ela!
Ouvi o vento...

Escutei minha voz... - e reconheci a dela...
Vesti seu velho moleton vermelho e senti o calor de seu abraço...
E fui remetida àquele tempo em que eu era apenas a sua irmã caçula, a Lelé...
Deixei a emoção tomar conta de mim durante o tempo necessário: e então chorei, suspirei, ri sozinha, lembrei, relembrei, chorei novamente...
Compartilhei momentos especiais...
Senti alívio...
Senti proteção...
Senti Rosana...
Deixa-a vir ...
E, ao final da ceia, deixei-a ir...
E nada conseguirá descrever a paz que senti ao, finalmente, poder me despedir de minha irmã...
No dia seguinte reconheci parte dela, ainda viva, em seus filhos...
E tive a certeza: este foi o meu milagre de Natal ...

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