29 setembro, 2009

RESÍDUO ... (Carlos Drummond de Andrade)

De tudo fica um pouco.
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
Ficou um pouco.
Fica um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura fica um pouco
(muito pouco).
Pouco ficou deste pó
De que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos,
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
De duas folhas de grama,
Do maço - vazio - de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
No queixo de tua filha.
Do teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Fica um pouco de tudo,
No pires de porcelana,
dragão partido, flor branca.
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato
Se de tudo fica um pouco,
Mas porque não ficaria
um pouco de mim? No trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
Na consoante?
No poço?
Um pouco fica oscilando
Na embocadura dos rios
E os peixes não o evitam,
Um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
cabelo na manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver...de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh, abre os vidros de loção,
E abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas o sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte de escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob os teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

PRIMAVERA...




...



INSPIRAÇÃO DO MESTRE ...



PASTA ... ARTE!!!



10 setembro, 2009

EPITÁFIO ...

"Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...
Queria ter aceitado

As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração...
O acaso vai me proteger

Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos

Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr
Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...
Queria ter aceitado

A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...
O acaso vai me proteger

Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
Devia ter complicado menos

Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr..."

(EPITÁFIO, Sérgio Britto. Titãs)

06 setembro, 2009

BARÃO VERMELHO ...

"Por você eu dançaria tango no teto / Eu limparia os trilhos do metrô / Eu iria a pé do Rio a Salvador.
Eu aceitaria a vida como ela é / Viajaria a prazo pro inferno / Eu tomaria banho gelado no inverno. Por você eu deixaria de beber / Por você eu ficaria rico num mês / Eu dormiria de meia prá virar burguês.
Eu mudaria até o meu nome / Eu viveria em greve de fome / Desejaria todo o dia a mesma mulher.
Por você, por você / Por você, por você.
Por você conseguiria até ficar alegre / Pintaria todo o céu de vermelho / Eu teria mais herdeiros que um coelho."

(Por você - Frejat, Mauricio Barros e Mauro Sta. Cecília - CD Puro Êxtase, 1998)

CHEESECAKE COM CEREJAS NEGRAS ...

THÉ DE FÊTE ...

JARDIM DOURADO ...