09 janeiro, 2009

1/3 DE QUARTA ...

CONCURSO LITERÁRIO
“CONTOS, CRÔNICAS E POESIAS 2008”
1º LUGAR CONTOS - categoria ADULTO

“1/3 de Quarta”
Helena Quintana Minchin (pseudônimo: Olenka Carlton)


Pipipi ... Pipipi ... Pipipi ...
Plaft!
É hora, faz frio e ainda está escuro; não seria nada mal ter mais tempo para ficar entre as cobertas, mas é rodízio do carro – e preciso estar lá antes das 7...
Termino de conferir roupa e maquiagem em frente ao espelho do elevador vazio.
Na marginal, trânsito quase livre ... a cidade já pulsa!
Café na padaria. Pão com manteiga, na chapa. Chocolate quente, puro.
- Geléia?
- Hoje não, obrigada. Talvez um suco ...
- Laranja?
A TV ligada impede a leitura do texto a ser discutido hoje; melhor é aquela mesa retirada, no cantinho ... Ah! Já ocupada!
Avisto duas mesas livres na varanda. Sentada, procuro pelos óculos ... Ah!
Livro aberto ... Diferentes e novas idéias sobre um velho tema por suas páginas escapam e começam a se acomodar, ainda inquietas, em minha mente ...
E quando nelas já estou imersa, não percebo aquela aproximação.
Vem devagar, um corpanzil que parece flutuar, tão leve é a forma como se movimenta; fala então um “oi”, em tom baixinho – mas suficiente para interromper delicadamente a quase catarse literária.
Trocamos olhares e poucas palavras – confesso que nem sempre entendo o que diz, mas gosto do seu jeito de gostar do meu jeito que gosta desse jeito gostoso de gostar ...
Sobre livros, sei que leu muitos ... Emprestou alguns ... Outros se perderam ...
Diz que nesta vida pesquisou, comprou, vendeu e trocou.
Jura que não foi padre nem monge - e foram muitos os amigos e namoradas, bem como os filhos e as noites em claro.
Veio de moto – e pensa que antes era mais rápido. Não ando de moto – e penso que antes era menos covarde.
Soube que parte de mim provoca sua curiosidade – e mais uma vez percebo um olhar furtivo para o par que, ao pé da mesa, repousa.
Sorrio, pensando bobagens ...
Em troca, recebo um olhar meigo e natural que me encanta - e deixa transparecer o quanto também parece gostar desse meu riso, real.
Talvez não combinemos, é verdade! Afinal, são tantas as diferenças!
- Você me surpreende ... Adorei aquela foto ... E o cavalo? Uma obra de arte! Esse, com certeza, Menelau não entregaria a Páris – mas o guardaria entre os seus bens mais raros!
- É seu.
Sei que receberei a pequena obra de arte; já virei uma colecionadora.
Inspirado, cria – e com sombras forma a inicial de meu nome. Mais um poema se inicia.
O coração descompassa - e nada mais parece certo ... Mas onde está o errado?
Com ânsia escreve coisas como: musa, és minha!, me usa! , deixando-me confusa ...
Termina o tempo. O meu. O dele. O nosso. 1/3 de mais uma Quarta ...
Pipipi ... pipipi ... pipipi ...
Plaft!
É hora, faz frio e ainda está escuro; não seria nada mal ter mais tempo para ficar ...
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OBS: no site de Santana de Parnaíba o texto está alterado (desde o pseudônimo) e com erros que comprometem o resultado final ... portanto, este é o original que foi enviado para a comissão julgadora em 2008 ...
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