14 agosto, 2008

O FOTÓGRAFO - Manoel de Barros

O FOTÓGRAFO
Manuel de Barros

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada a minha aldeia estava morta.
Não se ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas.
Eu estava saindo de uma festa.
Eram quase quatro da manhã.
Ia o Silêncio pela rua carregando um bêbado.
Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada.
Preparei minha máquina de novo.
Tinha um perfume de jasmim no beiral de um sobrado.
Fotografei o perfume.
Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo.
Fotografei o perdão.
Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa.
Fotografei o sobre.
Por fim, eu enxerguei a Nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakovski - seu criador.
Fotografei a Nuvem de calça e o poeta.
Ninguém outro poeta no mundo faria roupa mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal.


texto extraído do livro:

"Ensaios fotográficos"
Manoel de Barros
Editora Record

07 agosto, 2008

HELENAs ...

Na semana passada mais uma perda ...
D. Helena levou parte de sua luz para outros destinos ...
Quando a conheci pessoalmente, em 2005, foi impossível não "sentir" sua beleza, radiante aos 80!
"Convivemos" por menos de 3 horas, é verdade ... tempo suficiente - efêmera eternidade - para comentarmos sobre o quanto gostávamos de ser ... Helenas!
Compartilho aqui uma sensível e doce homenagem feita por suas netas ...


www.youtube.com/watch?v=1ahQ4lZmVTk